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Trabalho e a Visão Psicanalítica

  • psigabimoreira
  • 30 de ago.
  • 2 min de leitura

Para a psicanálise, o trabalho nunca é reduzido a uma simples tarefa produtiva ou uma função econômica. Para Freud, ele é uma das condições fundamentais da vida em sociedade e também uma via privilegiada para a sublimação do desejo. O trabalho, portanto, articula-se tanto ao laço social quanto ao mundo interno do sujeito, sendo ao mesmo tempo uma necessidade, realização e fonte de conflito.


Freud e o trabalho como sublimação

Em O mal-estar na civilização (1930), Freud aponta que o trabalho é uma das formas de lidar com as exigências pulsionais. Ao transformar a energia instintual em uma produção cultural e socialmente aceita, o sujeito encontra no trabalho uma via de satisfação, ainda que parcial. Sublimar significa deslocar a força da pulsão para uma atividade valorizada, como ciência, arte ou profissão. Dessa forma, o trabalho pode oferecer sentido, reconhecimento e pertencimento.


O mal-estar do sujeito diante do trabalho

Entretanto, Freud também reconhece que o trabalho pode ser fonte de sofrimento quando se torna imposição externa, desprovido de ligação com o desejo. A alienação laboral, característica das sociedades modernas, retira do sujeito a possibilidade de investir libidinalmente em sua atividade, deixando-o vulnerável à repetição enfadonha e à frustração.


A perspectiva lacaniana

Lacan amplia essa discussão ao situar o trabalho dentro da lógica do desejo e do discurso social. Em sua teoria dos discursos, o trabalho pode ser visto como parte do discurso do mestre, que organiza a produção e exige do sujeito obediência e produtividade. Mas também pode se aproximar do discurso do analista, quando o sujeito encontra uma relação com seu desejo e produz a partir de um lugar singular. Assim, a experiência laboral tanto pode aprisionar quanto abrir caminhos de subjetivação.


O trabalho como laço social

Para além da sobrevivência, o trabalho é uma das principais formas de inscrição do sujeito no laço social. Ele confere identidade, lugar simbólico e reconhecimento. O desemprego, por sua vez, pode ser vivido como ferida narcísica, pois retira do indivíduo esse eixo de pertencimento.


Na visão psicanalítica, o trabalho é atravessado pelo inconsciente. Ele pode ser lugar de realização, através da sublimação e do encontro com o desejo, ou pode se tornar espaço de sofrimento, quando reduzido à repetição alienada. O desafio contemporâneo é favorecer relações de trabalho que não apenas explorem a força produtiva, mas que permitam ao sujeito investir sua singularidade. Trabalhar, nesse sentido, não é apenas “fazer”, mas também existir no mundo.

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Gabi Moreira.


 
 
 

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